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sábado, agosto 31, 2019
Samba de Resistência
Sonho estranho*
Moacyr Luz e Chico Alves
Se for preciso grite e é preciso
gritar ora blasfêmias, ora louvor
e alto gritar a hora enquanto é vivo
o tempo em chama matando riso e dor.
Claro gritar, gritar na treva escura,
gritar na pura exaltação do amor,
gritar a cólera em látego que dura
enquanto carne exsude desamor.
Que grite o homem, só o gritar perdura
perdido embora, grite enquanto é rubro
o sangue a circular a pele impura.
O homem é um grito solto em largo espaço
e se ninguém ouvi-lo pouco importa,
ele sempre dirá: sou um grito e assim me faço.
* “Sonho Estranho” é o Samba de Resistência para os tempos atuais. A melodia expressa as angústias e mudanças políticas que o nosso país vive hoje. O single, fruto da parceria entre Moacyr Luz, Samba do Trabalhadore Chico Alves está disponível nas plataformas digitais.
“Já faz um tempo que observo preocupado a transformação das pessoas no Brasil. De gentis a hostis, de calmos a raivosos. Percebo que o país está mudando, especialmente nos posicionamentos políticos, embora respeite democraticamente todas as opiniões. Vejo uma ceifa passando por cima do pensamento cultural. O artista sendo patrulhado. Isso tudo vem martelando minha cabeça de compositor. Até que em uma noite, transformei este sentimento em samba. Convidei meu parceiro Chico Alves, que compartilha este sentimento de angústia com o Brasil atual, para fazer a letra. Esta é uma música para que as pessoas possam exorcizar um pouco tanto ódio, falta de solidariedade e intolerância. Acredito que boa parte das pessoas se reconheça nos versos e na melodia deste samba.” conta Moacyr.
https://almanaquenilomoraes.blogspot.com/2019/08/samba-de-resistencia.html
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ALMANAQUE CULTURAL BRASILEIRO: Um recado ao presidente e a todos os presidentes
ALMANAQUE CULTURAL BRASILEIRO: Um recado ao presidente e a todos os presidentes: Pela ordem, Seu presidente. de Ary Monteiro e Raimundo Olavo Linda Batista interpreta Pela ordem, pela ordem! Peço a p...
Pela ordem, pela ordem!
Peço a palavra, Seu Presidente!
Vossa Excelência, dá licença,
Quero um aparte para falar.
Quero falar num artigo,
Cadê o trigo, cadê o trigo?
Levam a vida nessa marmelada,
Passa o tempo e não resolvem nada. (bis)
Peço a palavra pela ordem,
Na voz do meu coração.
O povo não tem casa pra morar,
Não tem transporte, não tem carne, nem feijão.
Até das frutas que existiam por aqui,
Só resta agora o abacaxi!
Vossa Excelência, dá licença,
Quero um aparte para falar.
Quero falar num artigo,
Cadê o trigo, cadê o trigo?
Levam a vida nessa marmelada,
Passa o tempo e não resolvem nada.
sexta-feira, agosto 30, 2019
“Go out for a walk. It doesn’t have to be a romantic walk in the park, spring at its most spectacular moment, flowers and smells and outstanding poetical imagery smoothly transferring you into another world. It doesn’t have to be a walk during which you’ll have multiple life epiphanies and discover meanings no other brain ever managed to encounter. Do not be afraid of spending quality time by yourself. Find meaning or don’t find meaning but ‘steal’ some time and give it freely and exclusively to your own self. Opt for privacy and solitude. That doesn’t make you antisocial or cause you to reject the rest of the world. But you need to breathe. And you need to be.” -Albert Camus
swamp laurel buds
“Thoreau was the ‘Patron Saint of Swamps’ because he enjoyed being in them and in writing about them he said, “my temple is the swamp… When I would recreate myself, I seek the darkest wood, the thickest and most impenetrable and to the citizen, most dismal, swamp. I enter a swamp as a sacred place, a sanctum sanctorum… I seemed to have reached a new world, so wild a place…far away from human society. What’s the need of visiting far-off mountains and bogs, if a half-hour’s walk will carry me into such wildness and novelty.” - Henry David Thoreau, Walden and Other Writings
spring beauty wildflower (Claytonia virginica)
To shop, and to school, to work and play,
The busy people pass all day;
They hurry, hurry, to and fro,
And hardly notice as they go
the wayside flowers, known so well,
whose names so few of them can tell.
They never think of fairy-folk
Who may be hiding for a joke!
from ‘Open Your Eyes!’, by Cicely Mary Barker
quinta-feira, agosto 22, 2019
Ode ao gato
Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, vôo.
O gato,
só o gato
apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.
O homem quer ser peixe e pássaro
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato
do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.
Não há unidade
como ele,
não tem
a lua nem a flor
tal contextura:
é uma coisa só
como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
firme e sutil é como
a linha da proa
de uma nave.
Os seus olhos amarelos
deixaram uma só
ranhura
para jogara as moedas da noite
Oh pequeno
imperador sem orbe,
conquistador sem pátria
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na imterpérie
reclamas
quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no solo,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.
Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundissimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insignia
de um
desaparecido veludo,
certamente não há
enigma
na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertence
ao habitante menos misterioso,
talvez todos acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gatos, companheiros,
colegas,
díscipulos ou amigos
do seu gato.
Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço o gato.
Tudo sei, a vida e seu arquipélago,
o mar e a cidade incalcullável,
a botânica,
o gineceu com os seus extrávios,
o pôr e o mesnos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casaca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença,
os seus olhos tem números de ouro.
(Navegaciones y Regresos, 1959)
Pablo Neruda
Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
Fernando Pessoa
janeiro de 1931
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