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quarta-feira, setembro 27, 2017

O Amor Tudo Mata quando Morre


Eu morro dia a dia, sabendo-o, sentindo-o,
com a morte do amor em mim. 
Esvaiu-se, ensandeceu, partiu, 
espécie de sol sepultado por mãos ímpias, 
numa cratera de lua, algures, 
ou na tristeza de um retrato emudecido 
pela ausência de vozes em redor. 
Sem ele, a casa ficou deserta 
de risos, acenos e afectos, de tudo, 
as mãos ficaram ásperas, secas, 
a pele do rosto gretada, fria, 
e o sangue tornou-se lento e espesso, 
incapaz de dar vida às pequenas folhas 
orvalhadas da imaginação das noites. 
A erva cresce em redor de mim, 
os limões ficaram ressequidos sobre 
a toalha bordada, num canto da mesa. 
O amor tudo mata quando morre, 
detendo no seu movimento elementar, 
a máquina que ilumina o coração do dia. 

José Jorge Letria, in "Quem com Ferro Ama" 


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