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Já nem me conheço

quarta-feira, julho 25, 2018

MEMÓRIA DE UM EXOESQUELETO
era uma cidade escura e infernal
onde a ansiedade existia horizontalmente
como um condomínio
impossível de fugir
de repente abria-se uma janela absoluta
como um sonho dentro do sonho
e tu aparecias no escuro dentro dela
avançavas como o último cigarro
de um condenado destronando
as ruínas da incerteza
até desaparecer
sonhei que escapava
na direcção da tua boca
mas a manhã fazia já uma âncora
dos meus pés
quando acordei tinhas deixado
um lugar vago dentro de mim
e a memória tão esparsa e perene é agora
de uma amplitude inescapável solidificada
durante o processo da tua evaporação
a melhor prisão que alguma vez construí
para não acordar completamente
(e assim te conseguir libertar)
se te perguntarem podes dizer agora
que sei como o fim se prolonga
antes e depois de acontecer
agora que o dia se desmorona
ninguém me há-de salvar tão cedo
nunca gostei de ser invadido
pelas manhãs e tarde será
sempre
um bom modo
de acabar
José Anjos (n. 1978), in Somos Contemporâneos do Impossível (Abysmo, Dezembro de 2017).

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