Andava às voltas
no topo de si mesmo
e do monte.
Trepara a encosta
como em pequeno
trepava às árvores:
para ver melhor.
Vivia tão longe da água
que tinha a boca seca.
Agora andava às voltas
cheio de sede
a esgotar-se, a suar.
Porque não paras?,
perguntar-lhe-ia, se pudesse
entrar neste poema.
Não havia nada no cimo de si
nem do monte
— apenas o azul e algumas aves
que respiram mais alto.
A cidade ficava a meio caminho
entre o céu e a terra
(o céu lá para cima, ainda depois do monte,
a terra cá para baixo, um pouco antes da sede).
Ele andava às voltas com a vida:
atirava-lhe pedras, gritava
(se ao menos a chuva! se ao menos a chuva!)
como quem não encontra.
Só mais tarde entendi o que procurava:
um mar.
Filipa Leal (n. 1979), in A Cidade Líquid
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