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quinta-feira, setembro 06, 2018

Das marcas e patentes

A raposa vinha descendo do céu, quando os papagaios arrebentaram, a bicadas, a corda pela qual ela deslizava.

A raposa se espatifou contra os altos picos da cordilheira dos Andes e, ao se espatifar, espalhou a quinoa que trazia na barriga, roubada dos festejos celestes.

Assim, a comida dos deuses foi semeada no mundo.

Desde aquela época, a quinoa vive em terras muito altas, onde só ela é capaz de aguentar a aridez e o frio.

O mercado mundial jamais prestou a menor atenção a essa desprezível comida de índio, até que se soube que o minúsculo grãozinho, capaz de crescer onde nada cresce, é um alimento muito bom, não engorda e evita algumas doenças. 

Em 1994, a quinoa foi patenteada por dois pesquisadores da Colorado State University (US Patent 5304718).

Desatou-se, então, a fúria dos camponeses. 

Os patenteadores asseguraram que não iam usar seu direito legal de proibir o cultivo, nem cobrar nada por isso, mas os camponeses, indígenas bolivianos, responderam:
– Não precisamos que venha nenhum professor dos Estados Unidos nos doar o que é nosso.

Quatro anos mais tarde, o escândalo universal obrigou a Colorado State University a renunciar à patente.

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